terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Por Lilia Diniz - Breve receita mágica para criar três filhos vivendo de arte!

- Nossa! Não acredito. Você criou três filhos vivendo de arte? Me conta como foi a mágica?
- Foi bem simples querida. Posso contar sim. Tem tempo pra me ouvir?
1. Parafraseando o Mário Quintana, nunca levantei antes que o sol nascesse. Costume de gente da roça, que nos acompanha a vida inteira, mesmo não estando mais lá... Acreditando que ao final do dia poderia descansar com a obrigação cumprida e o de comer das crias, do dia seguinte, estaria garantido.
2. Falando muita poesia em bares e cafés, no cuidado pra chegar antes da meia noite em casa para não gerar insegurança nas crias. Acreditando que a poesia salva.
3. Publicando o primeiro livro passando cheque pré-datado na gráfica de um amigo que algumas vezes segurou o cheque para que eu completasse o valor. Acreditando que alguém iria comprar.
4. Sendo escritora, editora, produtora, divulgadora e camelô dos meus próprios livros. Acreditando que podemos ser muitas, a depender da necessidade e do desejo que nos move.
5. Fazendo da mala de livros extensão dos braços. Aonde vou levo comigo, vai querer agora?
6. Fazendo o curso de Teatro na UnB morando em Samambaia, já com os três filhos, tendo que levantar as 4 da matina para deixar almoço pronto. Chegando em casa depois da meia noite e indo dormir as 2h, depois de lavar banheiro e deixar encaminhado o café. Acreditando que meus filhos estariam bem, aos cuidados de minha irmã de 14 anos (Luciana Da Silva Diniz), mesmo comigo longe o dia inteiro. (lembrei agora que minha inscrição foi paga com dinheiro emprestado pelo meu compadre Antonio, companheiro da comadre Zildinete Teixeira Dantas)
7. Aprendendo a escrever projeto sozinha para concorrer aos benditos editais. E depois fazendo uma especialização em elaboração e gestão de projetos culturais. Acreditando que era preciso me qualificar para ser melhor hoje do que fui ontem.
8. Recebendo baixos cachês e muito estímulo, altos elogios para continuar. Aprendendo com os nãos a exercer a humildade, a ser persistente, e com os sins a necessidade de domar o ego.
9. Aprendendo sobre emissão de nota fiscal, RPA, Nada Consta e burocracias outras necessárias para o Estado controlar os pequenos.
10. Publicando mais 4 livros no mesmo esquema que foi o primeiro. Acreditando que era possível viver de arte, sem esperar por editais.
11. Escrevendo muitos projetos, varando madrugadas à base de café e neosaldina... e aprovando os necessários.
12. Agendando espetáculo apenas pela bilheteria, sem patrocínio e com amigos cúmplices nas minhas loucuras.
13. Falando poesia em escola públicas e particulares com a mesma alegria e verdade, nas ruas e no senado da república, com o mesmo entusiasmo, em canteiros de obras e ocupações com o mesmo amor... para doutor@s e iletrad@s sem camuflar palavras para agradar.
14. Montando perfomances poéticas por "encomenda", com os textos por mim escolhidos, sem abrir mão dos meus princípios.
15. Buscando ter coerência e... sendo artista integralmente. A arte é patroa exigente e justa. Se você doa 10% do seu tempo a ela você recebe dela 10% , se 20%, 50% ou 10% é a mesma regra.
16, 17, 18, 19...
SIMPLES ASSIM. 
Ah! Até tentei, por três vezes, fazer outra coisa que não ser artista, mas entrei em depressão profunda, voltei para o meu propósito de alma, para o que realmente me trás prazer, alegria e vontade de viver!




Foto: Oficina realizada por mim e pelo Jorge Gonçalves, no interior do Maranhão.

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